O “Mito da Caverna”, ou “Alegoria da caverna”, é uma parábola escrita pelo filósofo grego Platão em seu livro “A República”.
Este texto é uma das passagens mais conhecidas da história da filosofia ocidental e objeto de estudo frequente entre estudiosos e autores das mais diversas áreas do conhecimento humano.
O mito de Platão é uma metáfora poderosa sobre as diferenças entre ignorância e iluminação, sobre a condição humana e o processo de descoberta do conhecimento.
No livro 7 de “A República”, Sócrates pede a Glaucon que imagine um grupo de prisioneiros que foram acorrentados desde quando eram crianças em uma caverna subterrânea: tudo o que podem ver, por toda a vida, é a parede dos fundos da caverna.
Sócrates também diz a Glaucon que, do lado de fora da caverna, existe um fogo queimando e uma estrada por onde pessoas transitam livremente.
Estes seres e os objetos que carregam são projetados na parede da caverna onde os prisioneiros vivem – estes por sua vez, passam a interpretar estas sombras como o mundo real, porque elas são a única experiência e o único contato que possuem com o exterior da caverna.
O texto de Platão prossegue nos contando a história de um prisioneiro que consegue se libertar, sai da caverna e pode finalmente ver a luz do sol:
“Lentamente, seus olhos se ajustam à luz do sol. Primeiro ele só consegue ver sombras. Gradualmente, ele consegue ver os reflexos de pessoas e coisas na água e depois vê as pessoas e as coisas em si. Eventualmente, ele é capaz de ver as estrelas e a lua à noite até que finalmente ele possa olhar para o próprio sol.”
Platão. O Mito da Caverna – A República
Este prisioneiro, compadecido de seus antigos companheiros, volta à caverna para tentar libertá-los, mas infelizmente este retorno não é bem sucedido.
Seus olhos têm dificuldade em se adaptar novamente à escuridão e os prisioneiros passam a vê-lo como uma ameaça ao seu mundo constituído – eles não desejam ser livres porque, confrontados com sua ignorância, escolhem preservar o “conforto” de sua realidade.
A partir desta passagem, podemos identificar que a escuridão da caverna ilustra a ignorância, a luz do sol é o conhecimento, a verdade e a compreensão, enquanto a figura do prisioneiro liberto representa a filosofia, o saber.
O Mito da Caverna aplicado ao aprendizado e à educação
Platão nos apresenta uma discussão sobre conhecimento, ignorância e o papel da educação na criação do saber – a alegoria da caverna é uma metáfora ampliada, que representa, por meio dos prisioneiros, não apenas nós, indivíduos, mas também o ambiente social em que vivemos. Ela nos mostra a relação entre a educação e a verdade.
Quando o prisioneiro se liberta e sai da caverna, compreendemos que, na visão de Platão, o aprendizado é um processo difícil e muitas vezes até mesmo doloroso.
A educação muda nossa percepção e visão a respeito das coisas e, à medida que nossa concepção sobre a verdade muda, também se altera o nosso comportamento em relação ao mundo ao nosso redor, e também à educação.
O mito reforça que todos possuímos a capacidade de aprender novas coisas, mas nem todos possuem a curiosidade, o desejo ou a força necessária para se dedicar e viver este aprendizado.
Mais importante ainda, demonstra que, mesmo aqueles que buscam aprender, podem sofrer até aceitar a nova realidade que surge com o conhecimento, com novos paradigmas.
A conquista do conhecimento!
O processo de aprendizado também é um processo de despertar: símbolos, conceitos e teorias são trabalhados a partir da sabedoria de professores, através das dúvidas de seus alunos, em uma jornada de aprendizado que nos direciona a novas verdades, alternativas e perspectivas.
Quanto mais conhecimento adquirimos, mais propensos a novas descobertas nos tornamos, traduzindo estas novas ideias em novos aprendizados.
Claro, não podemos esquecer que o processo pedagógico envolve uma série de desafios, do desconhecimento profundo a respeito do mundo das ideias à relutância em aceitar alterações em nosso universo prático, físico.
Por isso, é fundamental desenvolver o aprendizado através de novas abordagens, que valorizem as experiências internas dos alunos e criem conexões com conhecimentos anteriores que eles possuam.
Para Platão, a educação é uma questão pessoal, que representa a transição da escuridão para a luz. O conhecimento é a iluminação do saber, mas cada indivíduo possui suas motivações e desejos, e nem sempre todos estão dispostos ou aptos a começar esta jornada quando requisitados.
Precisamos lançar luz sobre os olhos da ignorância, mas com o cuidado de considerar o aspecto assustador e frágil de cada nova experiência.
Considerar o mito da caverna na educação é pensar sobre o aprendizado como a ferramenta que atrai as pessoas para perto da luz do fogo do conhecimento, no exterior da caverna, com todas as suas possibilidades alternativas.
Cristiano Franco
Diretor Comercial e Marketing